05 fevereiro 2012

O miniconto é um gênero literário que vem, desde os anos 90, ganhando o gosto do brasileiro pela sua estética minimalista. Assim como a poesia, o conto, a crônica, ele apresenta todas as características que o definem enquanto gênero específico.

Em sua forma condensada e muitas vezes, fazendo uso do discurso direto, o miniconto reúne personagens, quase sempre não-nomeados, mas que têm uma ação , desenvolvida em um período de tempo, num dado espaço geográfico ou psicológico. Sua forma, no entanto, torna-se muito mais importante do que a própria extensão. Há quem o defina como uma literatura de viagem, que diverte tanto quanto os contos tradicionais, mas sendo diferente, apenas pela forma fragmentada.

Formas breves, que produzem semelhante efeito no leitor, também se entregam aos diferentes problemas que preocupam o ser humano. As questões sociais e, principalmente, as sentimentais, permitem o diálogo entre diferentes vozes e com ou sem solução, levam à reflexão.

Com a aquisição da obras Os cem Menores contos brasileiros, organizada por Marcelo Freire (2004), pude observar que se tratam de contos minúsculos, chamados de minicontos ou microcontos, mas que se organizam, através da estrutura com começo, meio e fim. Os assuntos são variados. Alguns impressionam pelo aspecto bizarro. São relatos da vida pública e privada. Um desafio dos escritores, ao escrever contos de, no máximo, cinquenta letras. Em geral, o aspecto do indeterminado, presente no gênero, não o distancia do conto comum.

- Tudo bem? - Ela me pergunta, me achando estranho.
      - Sim, meu amor... Quero continuar a te beijar sem parar pelos próximos seis meses!
       E ela sorriu apaixonada.

(Victor Sant'Anna)
Há quem utilize o formato dos minicontos para o teatro ou para o stand-up. Redes sociais como o Twitter, também já estão limitadas a poucas letras, poucos caracteres. Seguindo o twitter do escritor Millôr Fernandes, leio diariamente, um miniconto sobre o Rio, em que ele se apelida  guru do Méier, revendo  as falcatruas políticas,  abrindo espaço para narrar, em poucas linhas (caracteres) histórias curtas da sua cidade e do próprio país, incluindo os profissionais cariocas, que se mexem em dias com muita chuva. Sobressai a comparação daquilo que ele produz com efeito na mídia e com os mesmos textos curtos, considerados microcontos, organizados em grandes obras.

''Por que não lhe disse antes? Apertá-lo demoradamente contra o meu peito e dizer. Não disse porque pensava que tinha pela frente a eternidade.''
''A Disciplina do Amor''

Confissão
(Lygia Fagundes Telles)

- Fui me confessar ao mar.
- E o que ele disse?
- Nada. 

A escritora lygia Fagundes Telles vê no conto que escreve, uma forma de ajudar as pessoas através da literatura. Autora de minicontos expressivos como 
" Confissão ", ela  insiste em dizer que a fantasia, por exemplo, precisa ficar encerrada, precisa ficar embrulhada, para existir. 

No mundo fantástico dos contos, tamanho não é documento. Talvez, embrulhado, o gênero contemporâneo impere entre as narrativas. E  eu sempre imagino que, quem conta um miniconto também aumenta um ponto. 
                               Professora  Marília Mendes

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